A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece

A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece

    *Nossa capital paulista está fazendo aniversário, 453 anos.
São Paulo! Cidade cosmopolita que se modifica a cada instante, que mantém vivas as suas origens e valoriza fortemente a sua pluralidade cultural. Para compreendê-la é preciso mergulhar na riqueza de seus detalhes e de sua pujança.
Matutando sobre o aniversário da cidade, lembrei-me da primeira vez que pisei em solo paulistano.
Eu devia ter uns dez anos, quando minha mãe resolveu tentar a sorte na capital paulista.
Na época morávamos em Arco-Íris, e o lugar mais distante que a gente conhecia era Tupã.
Numa tarde fria de junho, quatro horas antes da partida, já estávamos na estação ferroviária à espera do trem que passava por Tupã ás dez para sete da noite.
*Quando a velha locomotiva apitou pelos lados do trevo da Camap, o coração só faltou sair pela boca, tamanha era a ansiedade e o medo de enfrentar a primeira viagem de trem e a metrópole desconhecida.
Havia muitas estórias sobre São Paulo. Crianças que eram raptadas das mães ao chegar à Estação da Luz. Trombadinhas com navalhas afiadas que atacavam as pessoas a qualquer hora do dia. Tudo isso deixava a gente apavorado.
Com medo de ser assaltada ao chegar em São Paulo, minha mãe costurou no bolso da minha calça todo o dinheiro que a gente levava.
Gosto de provocar meus irmãos toda vez que alguém relembra esse episódio. Se eles fossem raptados, não fariam muita falta, pois eles não valiam nada, eu sim, era o maia valioso dos três.
Após uma longa noite e muitos sanduíches de mortadela, finalmente o trem chagou à Estação da Luz.
O cheiro forte de óleo das locomotivas, a enormidade da Estação da Luz toda feita de ferro, aquela gente toda subindo e descendo escadas nos deixavam aflitos.
O medo só dissipou quando meu irmão nos acenou lá dos altos da escadaria.
Finalmente um rosto conhecido entre aquela assustadora multidão.
*Após arrumar a bagagem no porta-malas do carro, um DKV verde limão (meu irmão ganhava a vida como motorista de táxi), minha mãe sentou-se na frente, enquanto no banco de trás a gente disputava na cotovelada quem ficaria próximo à janela para admirar a cidade de São Paulo naqueles anos 70. Como os tempos eram outros, e as mulheres não tinham voz ativa como agora, sobrou para minha irmã, mesmo sobre protesto, ir sentada no meio.
Meu irmão fez um tour com a gente pela cidade, antes de pegar o caminho da Vila Brasilândia, nosso destino final.
Caipiras nascidos e criados em meio aos cafezais e sem nunca ter saído de Tupã-SP, aquilo tudo era deslumbrante naturalidade com todo aquele cenário.
Avenida Paulista, Largo Santo Bento, Avenida São João, Anhangabaú, Campo de Marte, meu irmão ia explicando os detalhes sobre cada rua, prédio ou bairro. Todos aqueles edifícios a perder de vista. Como pode morar gente numa altura dessas? Como fazem para secar as roupas? Tudo a gente queria saber. Eu cada vez mais encantado com São Paulo, e com meu irmão Juvenal, que conhecia cada detalhe da cidade.
Ao passar em frente ao edifício Andraus, minha mãe se benzeu, fazendo o sinal da cruz.
Dois anos antes, no dia 24 de fevereiro de 1972, uma tragédia que durou 7 horas e 35 minutos, deixou 16 mortos e 345 pessoas feridas. Meu irmão narrava o episódio com tantos detalhes, que por um momento eu pensei estar vendo as chamas lambendo as paredes do edifício.
O nosso encanto pela cidade grande foi desaparecendo quando o carro se afastou do centro e adentrou os bairros mais distantes.
Quando chegamos à Vila Brasilândia nossas fisionomias eram outras. O colorido dos prédios, as ruas asfaltadas, as alamedas com painéis alegres, tudo isso tinha ficado para trás, como um sonho de uma noite de verão.
O lugar que a gente ia morar era horrível, sem asfalto, sem luz nas ruas e longe de tudo.
Nossa permanência na capital paulista não durou muito tempo, seis meses depois estávamos desembarcando na movimentada estação ferroviária de Tupã.
Apesar dos contratempos daquela época, continuo fascinado por São Paulo, depois de Tupã, a cidade do meu coração.
Parabéns São Paulo.
J. Barbosa em 24/01/2007
Por J. Barbosa em 24/01/2007
Nota:
- J. Barbosa  é  Profissional do Rádio em Tupã-SP, Colaborador Voluntário Neste Blog.
 Texto cedido pela autor
- 453 anos em 24/01/07
- CAMAP - Cooperativa Agrícola Mista da Alta Paulista
- DKV - Dampf-Kraft-Wacen, carro de força a vapor em referencia aos primeiros motores fraldicados pela empresa.
























































































A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece Reviewed by ELIO SILVA on 11/24/2018 Rating: 5

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