Oi Tio!

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"O tempo voa..."

Quando somos jovens, 40 anos é uma idade tão distante e parece que nunca irá chegar. São tantos conflitos: as transformações ligadas a maturação sexual (puberdade), a ansiedade de ser dono do próprio nariz, a insegurança com relação ao primeiro emprego, a busca pela nossa alma gêmea, a luta no dia a dia pela estabilidade financeira, etc...

Depois dos 40 anos, parece que o tempo avança mais rápido, tem-se a impressão que a gente vai dormir no inverno e quando acorda já é verão. O tempo voa...

Ninguém gosta de envelhecer: até os 35 ou 40 anos de idade, o homem se acha imortal. Até essa idade, a morte é uma ideia muito distante, coisa que só acontece com os outros. A partir dos 40 anos, começa-se a olhar no espelho e a notar os sinais da idade.

Um bom exemplo para se saber que estamos envelhecendo: você acaba de pentear a vasta cabeleira, perdendo na frente do espelho mágico aquele tempo justo no ajeitar do velho e querido cabelo que ao longo de sua vida fez tanto sucesso. Findo o ritual do toalete, já na sala e sentado com a família, sua filha pergunta, à queima roupa: ô pai, como é que você faz para pentear essa careca?

Essa súbita transformação da cabeleira branca numa careca lhe dá uma prova concreta de que a terceira idade está chegando. Ao passar dos 40 anos, já não é mais possível ignorar o espelho que silenciosamente vai mostrando mais nitidamente as rugas, as bolsas sob os olhos, as entradas na testa se tornam mais pronunciadas, aumento de peso e acúmulo de gorduras no rosto e sem falar na barriguinha que teima em crescer cada vez mais. Você tenta ignorar, mas todas as vitrines das lojas cruelmente denunciam.

No Brasil, uma certeza de que a terceira idade está chegando é ser chamado de tio por uma mulher bonita. Decepcionante também é quando alguém que parece ter sua idade, te chama de senhor. Quando isso acontece comigo,  demora algum tempo para cair a ficha que o "senhor" sou eu.

Um amigo conquistador, também "quarentinha" como eu, contou-me o que considera sua pior experiência de envelhecimento. Ele estava entrando no elevador quando na portaria surgiu uma moça lindíssima, com quem pensava estar flertando. Num esforço medonho encolheu o quanto pôde a barriga, segurou a porta do elevador, e com um sorriso de comercial de pasta de dente e perguntou qual o andar ela iria, para poder apertar o botão do elevador. E a moça friamente responde, sem nem mesmo agradecer a gentileza: 

__ O décimo terceiro tio.

Outra sintonia de que a idade realmente chegou é a visão. Não há como escapar, você pode até se orgulhar de ter tido uma ótima visão a vida toda. Mas só até os 40 anos. Depois disso, se passar por uma consulta no oftalmologista, vai sair com uma receita de óculos nas mãos. Lá longe a gente enxerga bem. Pode-se até dirigir, de perto é que a coisa se complica. É uma realidade que não há como negar. Há quem diga que o olho humano é uma máquina fotográfica com validade de 40 anos.

Curioso é lembrarmos que quando jovens, o nosso sonho era fazer logo os 18 ou 20 anos, para sermos donos do nosso nariz, pode ir ao cinema, ver filmes de sacanagem ou sair pelas noitadas sem ter hora de voltar para casa. E agora, depois dos 40 anos, o nosso sonho (pelo menos o meu) é ter 20 anos novamente, ou fazer muitas coisas que a gente deixou de fazer.

O consolo é que nos últimos tempos as coisas mudaram muito. Antigamente um cara de 45 anos se vestia completamente diferente de um cara de 25. Já imaginaram nós de terno e gravata como os quarentões de antigamente? Hoje fazemos tudo (ou quase tudo) que um jovem de 20  faz.

Para quem se preocupa em aparentar ter menos idade, opções é que não faltam: temos mais variadas fórmulas, e para aquele que tiver coragem de enfrentar os comentários dos “amigos”, as tinturas estão ai para cobrir os cabelos grisalhos, pra barriguinha a academia de ginástica é a solução.

Alguns quarentões mais conservadores tentam enganar a si mesmos com conversas do tipo: 

"a minha barriguinha é sex", "é dos carecas que elas gostam mais", ou, "cabelo grisalho é charme".

Alguns até dizem:

"vejam o Antonio Fagundes, ele não tinge o cabelo" (fosse eu bonitão tal qual o Fagundes, também não tingiria).

A velhice mudou, isso faz com que as pessoas com 60, 70 ou mais olhem para a frente com muita esperança de que a vida ainda tem muito a lhes oferecer. Sendo assim nós, os quarentões, estamos ainda na flor da idade.

Por J. Barbosa em 28/09/2005

Nota:

- J. Barbosa  é  Profissional do Rádio Na Cidade de Tupã-SP
- Fotografia: Internet
-  Texto cedido pela autor