Adeus Minha Mocidade

Imagem: Internet - pixabay.com
"...estava dizendo adeus á minha mocidade..."

Sentado ali frente ao balcão da óptica, o pensamento voava a mil por hora. Tinha chegado à triste conclusão: estava dizendo adeus á minha mocidade, não cronológica, essa já me dizia há algum tempo que não era mais um rapazinho, mas a mocidade mental.

Sempre me senti um jovem. A ficha (da mocidade perdida) só caiu naquele momento, ali defronte à simpática atendente da casa de óculos.

A receita do oftalmologista estava na bolsa já fazia dois meses. Quase todo o dia pegava, olhava e guardava novamente. Relutei, mas não teve jeito, havia chegado a hora de usar a muleta dos olhos.

De longe eu enxergo bem, de perto é que a coisa estava ficando complicada. Experimentei um, dois, três, e nada, só vinte minutos depois é que encontrei um que achava ter me caído bem.

Quando cheguei à rádio, fiquei uns dez minutos trancado no banheiro frente ao espelho, tentando me acostumar com a geringonça, e como conheço bem os amigos de trabalho que tenho, sabia que a novidade não passaria em branco.

Não deu outra, o primeiro que me viu caiu na gargalhada.
__ O que é isso, é seu mesmo?

Engoli seco o comentário, mas a vontade foi responder: "não, peguei emprestado de um velhinho ali na esquina".


Como acontecia naquela novela global, a notícia se espalhou como um rastilho de pólvora, quase todos faziam questão de ir ver a novidade.

Senti-me o ET de Varginha sendo examinado. Alguns faziam questão de pegar e experimentar se era realmente de grau. Os comentários eram os mais “animadores” possíveis.

__ Nossa, você ficou com uma cara de mais velho.

Outros diziam:

__ Esta armação não está combinando com seus cabelos.
Do lado, alguém emenda:

 __ Que cabelos?


O Ademir André fez questão de buscar o Ângelo Neto, quem estava na discoteca, para conferir a novidade. 

__ Ficou com cara de senhor, me disse Ângelo. Respondi que as lentes tinham apenas um grau, era para enxergar de perto (antes ficado mudo).

Deu-me a reposta mais “animadora” de todos ali.

__ No começo é assim mesmo, depois passa para dois graus e vai aumentando aos poucos. Com esse comentário já me via num futuro próximo usando aqueles  óculos de lentes grossas tipo fundo de garrafa.


Em casa, tal como no serviço, a novidade não passou despercebida. Frase da minha filha Maria Carolina.

__ Tá parecendo a Dona Benta do Sítio do Pica-Pau Amarelo. A observação foi devido à maneira que tenho de usar os óculos.


Na óptica a moça foi enfática: “tem que usar os óculos quase na ponta do nariz, ao longe se olha por cima, se não estraga o resto da visão".

Não está sendo fácil me acostumar com o acessório pendurado no pescoço. Quando vou à minha janela dar uma espiadinha na cidade, tenho de tomar o maior cuidado para não quebrá-lo.

Nunca pensei que um simples óculos de leitura fosse me causar tantos transtornos, mas, aos poucos, vou tentando digerir a novidade.

Primeiro foram os cabelos brancos, depois veio a barriguinha saliente que tento debelá-la com muito custo. Agora a visão.

Fico apreensivo só de imaginar o que vem pela frente. Receio maior mesmo é quando chegar ao Viagra, ai sim, será o fim.
Por J. Barbosa em 12/04/2006 
Nota:
- J. Barbosa  é  Profissional do Rádio em Tupã-SP, Colaborador Voluntário do Tupã Mosaico Filosófico.
- Fotografia: Internet
 Texto cedido pela autor
Adeus Minha Mocidade Adeus Minha Mocidade Reviewed by ELIO SILVA on 9/13/2019 Rating: 5

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