Nossa, há quanto tempo eu não pronunciava essa
frase. Só agora vejo quanta falta faz você me dizendo:
_"Que Deus te abençoe meu filho."
Lembra-se,
quando éramos pequenos? Toda noite antes de dormir, a senhora nos ensinava a
rezar a Ave Maria, o Pai Nosso, a Oração do Anjo da Guarda:
...“ Com Deus me deito e com Deus me levanto...”
...“ Com Deus me deito e com Deus me levanto...”
Depois
da reza eu os demais irmãos, um a um, te dizíamos: Bença Mãe, dorme com Deus,
mãe. A briga, às vezes, era porque cada um queria ser o primeiro a te desejar boa noite.
O
tempo passou e eu cresci, e nunca mais te pedi que me abençoasse; achava careta
demais ficar pedindo bença.
Passaram-se
tantos janeiros, nem dei conta que o pincel do tempo havia tingido teus cabelos
de branco. Como está velhinha, quantas marcas nesse teu rosto sereno.
A
vida agitada do dia a dia me fez esquecer um pouco de você. Nem percebi o seu
olhar embaçado, tão triste, cansado, como se falasse o que já sofreu.
Toda
tua experiência vivia adormecida; eram poucos os que tinham um tempinho para te
ouvir. Teus braços que já ninaram tanta gente, ultimamente só sentiam o tremor
da idade.
Sabe
mãe, a culpa é dessa vida agitada da gente. O trabalho, os amigos, o futebol na
televisão, a internet, tudo isso me ocupava um tempão.
Por
isso não tinha tempo para conversar com a senhora. Também achava chato ter que
ficar te ouvindo reclamar das dores no corpo, das noites de insônia, te ouvir
repetindo as mesmas histórias de sempre.
Sem
contar a tua preocupação com alguns irmãos que lhe esqueceram.
Todos
os dias era a mesma coisa:
_Viu
o fulano? Tem notícias de cicrano? Ele não telefonou mais? Como se eles ainda
fossem crianças para merecer tanta preocupação tua.
Sabe
mãe, às vezes me irritava tua mania de ficar acordada me esperando quando eu
chegava um pouco mais tarde em casa.
Acho
que na tua cabeça eu ainda era um menino de calças curtas, pois vivia se
preocupando comigo. Nas minhas
crises renais então nem se fala. A cada dez minutos vinha me perguntar e aí
filho, passou a dor?
Para
te tranquilizar eu mentia que sim, só assim você voltava para o teu sofá.
Sabe
mãe, um filme inteiro se passa em minha mente nesse momento.
Mas
vejo com intensa tristeza que os diálogos não estão completos.
Nas
páginas desse “script” só vejo tuas falas, as minhas estão faltando, foram riscadas.
São
frases simples como:
" -você é muito importante para mim, ou, eu te amo, mas que poucas vezes foram pronunciadas por mim."
" -você é muito importante para mim, ou, eu te amo, mas que poucas vezes foram pronunciadas por mim."
É
uma pena que o roteiro desse filme já foi escrito, e nada poderá ser
modificado.
Só
me resta assistir com muita angústia a última cena que acontecerá daqui a poucos minutos, quando um agente da funerário se aproximar com a tampa do esquife.
Bença
mãe! Me perdoe pelas palavras que não te disse.
Nota 1
Eu e os irmãos Juvenal, Sebastião,
Manoel, Donizete, Anita, Eremita, Alaíde e demais familiares, queremos
agradecer de coração ao Dr. Toledo e aos demais médicos, ao amigo Fábio e Todos
os funcionários do Hospital São Francisco de Assis, pelo ótimo atendimento
técnico e humano dispensado à nossa mãe, VITORINA
MARIA DE JESUS FREITAS, nos dias em que ela permaneceu internada.
Que Deus abençoe a todos.
Benção Mãe
Reviewed by ELIO SILVA
on
5/11/2019
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