O Morto Vivo
Estaria eu vendo sombração?
Cada
ser humano é um ser único e cheio de particularidades. Sempre que chega alguém
me contando manias ou vícios eu penso comigo mesmo. “cada doido com sua mania”.
Mas ai vem em mente que eu também possa ser um ser um pouco maluco. Pouco não. Sou
muito mais maluco do que muita gente por ai.
Não
tem jeito, certas maluquices acabam virando manias ou vícios, sei lá. Entre
tantas manias que tenho duas se destacam: a primeira é olhar placas de carro.
Já tentei parar, mas é automático.
Se
passar por mim um carro e alguém perguntar quem estava dentro, a marca ou a cor
do veículo, com certeza não saberei responder, mas as letras, os números e a
cidade de origem da placa com certeza estarão na ponta da língua.
A
outra mania que não consigo largar é olhar os nomes das pessoas falecidas que
ficam afixados no quadro defronte a funerária Tamoios.
Faça
chuva ou faça sol, toda vez que desço a Rua Caingangs, é de praxe eu parar para
conferir quem partiu para a eternidade. Ou como dizem alguns: “partiu para o andar de cima", ou, quem "bateu a cachuleta" como dizia o Dorival Jorge, ou ainda,
como diz o Ângelo Neto quem "subiu a Caingangs de cara para trás”.
Essa
mania me causou maior constrangimento outro dia, pois acabei “matando” um
amigo.
Estava
lá na placa defronte a funerária com todas as letras, nome e sobrenome do
amigo; até a idade batia. Chegando ao trabalho liguei na funerária para saber
onde estava sendo o velório.
Tarde
demais, o morto já havia sido enterrado. Pesaroso por não ter prestado as
últimas homenagens, só me restou fazer uma prece à alma do amigo com quem
convivi nos meus últimos tempos de Vila Indústria.
Passado
o susto pela surpresa desagradável, me apressei em ligar para a viúva, para lhe
desejar as condolências, e me colocar à disposição (no bom sentido, é claro)
para qualquer coisa que precisasse. Por sorte ou azar, sei lá, liguei várias
vezes, mas ninguém atendeu.
Alguns
dias após o ocorrido, eu estava descendo a Tamoios de moto, quando avistei
alguém muito parecido com o “falecido” subindo de carro na outra mão de
direção. Quando fiz o contorno para tirar minha dúvida, já era tarde, o carro
havia desaparecido.
Estaria
eu vendo sombração? Até pensei em encomendar uma missa para o morto, talvez
estivesse precisando de reza.
Qual
não foi minha surpresa quando no mesmo dia, à tarde, tornei a cruzar com
“falecido”, desta vez, saindo do banco.
Desconfiado
e com certo receio de se tratar de uma alma penada, toquei-lhe no ombro para
conferir se era mesmo de carne e osso. Caso não fosse, já estava preparado para
sair em desabalada carreira em busca do centro espírita mais próximo.
Por
sorte, ele se virou para ver quem havia lhe tocado.
-O
que você está fazendo aqui? Você não morreu?
Surpreso
pela minha pergunta, responde-me sorrindo:
- Se morri alguém esqueceu de me
avisar.
Enquanto
caminhávamos pela Tamoios, demos muitas gargalhadas do equívoco ocorrido.
Achando
aquilo tudo muito divertido, disse-me ele que eu não era o único a pensar que
ele havia passado dessa para a melhor. Porém, o falecido cujo nome estava lá na
placa da funerária era um homônimo seu.
Por J. Barbosa em 08/08/2006
Nota:
- J. Barbosa é Profissional do Rádio Na Cidade de Tupã-SP
- Fotografia: Internet
- Texto cedido pela autor
- Fotografia: Internet
- Texto cedido pela autor
O Morto Vivo
Reviewed by ELIO SILVA
on
7/05/2019
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Bela história J. Barbosa. Isso acontece com homônimos e muitas vezes a confusão é grande.
ResponderExcluirComo trabalhei, muitos anos, na remoção de presos do DEIC/São Paulo, para todas os Centros de Detenção Provisorias, Cadeias Públicas e Penitenciárias, tanto no Estado de São Paulo como para todos os estado do Brasil, passei por isso inúmeras vezes. Foram muitos Wellington, washington, ou Rock Hudson da silva. Como tínhamos de devolver para a mesma unidade de onde fugira, muitas vezes eu pedia a uma Penitenciária para receber o fugitivo, Wellington silva e a solicitação era negada porque Wellington Silva estava preso lá.
Era preciso confirmar nome da mãe, pai, cidade onde nasceu, estado de nascimento. Depois de todos esses tramites me diziam ele está morto. Pronto! piorou a situação, aí era preciso provar que o morto estava vivo.