Olha
O Trem
Dos 28,5 mil quilômetros
de estradas de ferro em funcionamento no Brasil, alguns trechos são voltados
exclusivamente ao lazer.
Muita coisa ocorreu com o
transporte ferroviário brasileiro desde que em 1854 o lendário Barão de Mauá
(Irineu Evangelista de Souza) recebeu a primeira concessão para construir e explorar um trecho ferroviário no Pais. A Imperial Companhia de Navegação e
Estrada de ferro Petrópolis, que ia dessa cidade ao porto de Mauá, no Rio de
Janeiro.
Pelas estradas de ferro
brasileiras era transportado o café, o ouro de outrora e os recém-chegados
imigrantes, transportados até as regiões produtoras do grão. Às suas margens
novas cidades nasceram como aqui no interior de São Paulo: Tupã, Araçatuba,
Marília, Presidente Prudente, entre outras.
O crescimento ferroviário
se manteve por muitos anos e o Brasil chegou a ter mais de 32 mil
quilômetros de trilhos. Mas a decadência do comércio do café no mercado
internacional e as posteriores apostas do País no transporte rodoviário começaram
a minar o setor ferroviário, que amargou o período de estagnação e decadência.
Nos anos setenta e
oitenta, morando a cento e cinquenta metros da estação ferroviária de Tupã, fui
testemunha de uma época que deixou saudades. Com certeza muitos se lembram dos
enormes cargueiros que passavam por Tupã com destino a Panorama ou a São Paulo.
Eram constantes as manobras dos maquinistas e seus ajudantes, num corre-corre para
lá e para cá que mais parecia um quebra-cabeças: muda chave ali, corre mais
adiante, engata um vagão, solta outro mais adiante. Bons tempos aqueles. Sem
falar nos trens de passageiros. Quem conheceu de perto o que era a estação
ferroviária naqueles tempos e passar por lá hoje, certamente ficará desolado.
O que se vê é o vandalismo e o tempo corroendo uma parte de nossa história.
Quem não se lembra do
movimento que era nossa estação ferroviária, vários horários de trens para São
Paulo e para Panorama. Conseguir um lugar para viajar sentado, em épocas de
feriados prolongados, era uma missão difícil.
Quantas vezes tínhamos de
viajar em pé de Tupã a São Paulo. Mesmo com todos esses contratempos foi uma
época que deixou saudades. Ao som do terceiro apito o trem lentamente ia
deixando nossa estação ferroviária, passando por Pompéia, Marília, Garça,
Duartina, Bauru, Jaú, etc. Dormir durante a viagem não era tarefa fácil. Ao
contrário do ônibus, onde as pessoas mal se falam umas com as outras, no trem a
conversa rolava noite adentro. Após cada estação passava o chefe do trem,
picotando o bilhete (passagem), quando não, era o garçom oferecendo sanduíches,
biscoitos, bebidas e, na madrugada, o cafezinho. Para quem podia pagar, o vagão
restaurante oferecia uma refeição completa. E assim a viagem seguia num clima
de camaradagem, até a Estação da Luz.
Naqueles tempos toda vez
que o trem chegava na estação de Tupã, o movimento era enorme. Quase duas
dezenas de táxis, mais de uma dúzia de charretes faziam o transporte dos
passageiros aos seus destinos. Muitas vezes alguns motoristas chegavam a fazer
duas viagens, devido ao grande número de passageiros que desembarcavam em nossa
estação.
Com as rodovias do Brasil
nas condições péssimas em que se encontram, com pedágios pela hora da morte,
com o preço dos combustíveis nas alturas, com certeza o transporte ferroviário
seria a opção mais barata e viável.
Por que será que ninguém
se interessa pelo assunto? Quem saiu ganhando com o fim das nossas ferrovias?
Por J. Barbosa em 04/02/2005
FONTE: J. BARBOSA - PROFISSIONAL DO RÁDIO EM TUPÃ-SP
Nota:
Foto Inicial: Trabalho em pintura feito por NILCE MUNIZ, natural de Tupã-SP.
Hoje aqui não reside mais, porém, leva consigo as lembranças de sua cidade natal.
Esperei, até que enfim pude unir na mesma publicação a arte de narrar um fato e a arte de retratá-lo.
Aos amigos J. Barbosa e Nilce Muniz meus agradecimentos.
Tupã Mosaico Filosófico.
Tupã Mosaico Filosófico.
Olha O Trem
Reviewed by ELIO SILVA
on
3/30/2019
Rating:
Essa boa pergunta merece resposta....
ResponderExcluir